domingo, 14 de abril de 2019


No rastro do Senhor.

Aos treze anos meu pai tinha um escritório na Amaral Peixoto 55, ed. Tupinambás.
Toda tarde eu ia para lá “trabalhar” e fazer meus exercícios de casa com ele. Na vinda
de casa eu parava na banca da esquina para ler um gibi. Certa vez eu fiquei tão absorto que “acordei” sendo carregado pelas orelhas pela minha mãe...
Como o local do escritório foi construído para ser residencial, era muito espaçoso e ele sublocou parte para uma senhora.
Creio que a partir dali tive meu primeiro contato com Ele. A tarde toda ela cantava.
E ouvia "aquilo" diariamente. Eram louvores.
Mais adiante, época do ginásio, fiz amizade com João Carlos de Souza Cortes.
Estudávamos juntos na minha casa ou na dele próximo a rua D. Bosco. Muitas vezes almocei lá e creio que ali tive meu segundo encontro com Ele. O pai do João Carlos era Pastor e orávamos antes das refeições. Hoje o médico João Carlos é Pastor da Igreja Presbiteriana de Icaraí.
Adentrei pela primeira vez numa igreja evangélica (hoje resido em frente a ela)  - Batista Vital Brazil , a convite do meu amigo Vitorino, para o casamento do seu filho. Passados alguns bons anos, mais recentemente encontrei em nossa IBJ a Luiza Scultori, neta deste meu amigo.
Avançando no tempo, final de 2004, atendi na minha oficina um senhor que ficou aguardando o reparo de seu carro. Terminado o serviço ele me chamou e me presenteou com uma Bíblia com a seguinte dedicatória: “Para Jorge Roberto Botelho, agradeço pelo cuidado que a sua equipe teve com meu carro. Espero que este precioso livro, a Bíblia, venha engrandecer sua vida e seja uma luz a iluminar seu caminho e através dela venha aceitar o presente mais valioso de sua vida, o Senhor Jesus”.  Pr. Robert S. Mills  Eu atenho guardada até hoje.
Eis aí meu terceiro contato com Ele.
Um belo dia eu e meu sócio e filho nos desentendemos. Sem nenhuma razão plausível comentei com um amigo o fato ocorrido e que estava triste com aquilo.
Chegou o grande momento: “Vamos hoje comigo a uma reunião de amigos”
Reunião com amigos que nem conheço, fiquei ruminando. O que lá vou fazer com este baixo astral? Suponho ter sentido uma leve auscultação em meus ouvidos.
Como nada tenho a fazer, vamos lá. Foi o bastante. “Homens de Valor”: entranhou-se em meu amago e lá se vão mais de uma dúzia de anos a conviver entre orações, louvores e amizades fraternais.
Glória ao Altíssimo, Deus dos Deuses que tem me permitido conviver numa tumultuada vida de cirurgias, consultórios e exames. Que tem me permitido ter uma esposa companheira e amiga há mais de meio século. Que tem me permitido ter uma família. E tão importante é este meu Abba que me agracia com o dom de eu me ufanar não me considerar doente.

Jorge Roberto Botelho – Abr 2019

quinta-feira, 28 de março de 2019

Quimeras de um velho

Quero ir embora para o meu passado...
Quero ir embora para o meu passado para não ver arrombarem nossos cofres púbicos.
Quero ir embora para o meu passado para fugir dessa politicagem sórdida de hoje.
Não quero mais ver o circo dos togados com seus espetáculos sórdidos.
O meu passado está tão longe... Que saudade!!!
Quero poder reviver os sonhos e namoricos na Praça da República e sentar num dos bancos do nosso saudoso Liceu. Me mostrar aos colegas liceistas fazendo em duas rodas a entrada da rua em frente na picape Ford F100 1955...do meu velho!!!
Quero ter de volta meu primeiro fusca 1200.
Saudades do restaurado Ford 1936 de meu pai, surrupiado diversas vezes para eu dar um rolé pela Praia de Icaraí. 
E la se vão meio século mais três anos anos do primeiro beijo em d. Ana.
Que emoção ao dirigir pouco mais de cinco metros um camburão Ford preto e vermelho da Polícia na Rua Visconde de Itaboraí aos treze anos se idade...
E o nadar na rua da Praia, hoje Visconde do Rio Branco, até o enrocamento onde foi tudo aterrado?
Seria loucura querer me sentar no Bier Strand e tomar um ”xopis” gelado?
Quantas vezes assisti um bang-bang nas poltronas de madeira do Cinema Imperial, quando as pulgas deixavam... Ou o Hopalong Cassidy ou Zorro no Cinema Rio Branco nas sessões das 10 horas da matina. Ou comer uma empada no Tringuilim ao lado do Cinema São Bento.
O balaústre do bonde para praia de São Francisco via Estrada Fróes parece me esperar para um mergulho na tranqüilidade daquelas águas.
E as barcas de madeira Rio-Niterói lentas e rangendo??? Em 1959 assisti a revolta das Barcas quando a estação de Niterói foi queimada pelo povo.
E as viagens... Ir ao Paraguai/Argentina com Suru de fusca (talvez década de 60???) ou se embebedar com a maravilhosa arquitetura da Capital num opalão com alguns amigos ou bandear para uma dezena de países do velho continente mais de uma vez.
Andar nos trolley-bus com seus longos chifres nos dias de chuva que sempre nos davam um choquinho.
E a Lotação Ingá dos Magyrus Deutz refrigerados a ar indo para o Fonseca?
Como se fosse hoje meu passado me lembra das idas que meu pai me levava no Hotel Casino Icaray para ver os grandes salões com suas mesas verdes. E foi lá meu primeiro dia de lua de mel há mais de meio século atrás.
Sinto ainda a água fria após meu mergulho do segundo andar do trampolim da Praia de Icaraí pois tinha medo de pular do terceiro!!! 
Ah meu fusquinha branco chegando em terceiro lugar numa das muitas corridas que fiz no Autódromo do Rio. 
São muitas as mil lembranças que ainda povoam minha cuca já doente.
Volta pra mim meu passado... Estou com saudades!!! Volta logo...

Jorge Roberto Botelho - março 2019